
Adriana Bacellar
Enquanto a natureza vai me presenteando com diferentes espécies de orquídeas, em casa, e com aroeiras em flor por toda a cidade, os jornais trazem as notícias que, mais do que indignação, causam agora um misto de ironia e escárnio. Na madrugada do dia da aprovação, na Câmara dos Deputados, do tal novo Código Florestal (que libera mais alguns acres aos madeireiros), um casal de ambientalistas e defensores da floresta foi assassinado no Pará como que para comemorar o feito de Brasília.
O casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva havia denunciado a ação de madeireiros perto do Assentamento Agroextrativista Praialta Piranheira, onde morava. Ambos eram ameaçados há tempos, mas não figuravam em nenhuma lista oficial de possíveis candidatos a receber segurança da Polícia Federal ou de quem quer que seja. Foram, como Chico Mendes e Dorothy Stang, deixados ao “deus-dará”, e terminaram como os outros dois, assassinados.
Poucos dias antes, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou dados que apontaram para o aumento de 27% do desmate da Amazônia nos últimos meses. Divulgados agora, os dados são de agosto de 2010 a abril, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Ainda mais alarmante foi a constatação de que houve um crescimento anormal da derrubada da floresta nos últimos dois meses, exatamente quando a discussão sobre reformas no Código Florestal brasileiro esquentou: entre março e abril deste ano, a destruição da Amazônia cresceu 473% (!) em relação ao mesmo período do ano passado.
A presidente da República, envolvida com uma pneumonia dupla, não deu um pio sequer sobre o assunto. Também não disse absolutamente nada sobre as atividades suspeitas do seu ministro da Casa Civil à frente da empresa Projeto durante o seu (dele) mandato de deputado federal. De 2006 a 2010, paralelamente às suas atividades de deputado federal, Palocci aparentemente intercedeu por diversas empresas que, imediatamente após contribuírem para a campanha da então favorita das pesquisas ao Planalto, tiveram liberadas expressivas somas de Imposto de Renda retido.
Houve mais: durante a transição do governo Lula para o governo Dilma, apenas nos últimos meses de 2010, a Projeto de Palocci multiplicou seu patrimônio por 20, mais da metade após a eleição de Dilma Rousseff. Não satisfeita, no começo de 2011 a Projeto adquiriu dois apartamentões em São Paulo, um de 6,6 milhões e um escritório de 882 mil reais, sendo que ninguém sabe ao certo o que faz e para quem trabalha a sua empresa.
No meio de todo o escândalo, a Folha de S. Paulo, responsável pelos furos, apurou também que a Caixa Econômica Federal relatou à Justiça que o responsável pelo vazamento dos dados bancários do caseiro Francenildo Costa foi mesmo o gabinete do ministro Antonio Palocci, na época na Fazenda. Tudo porque o processo está em andamento e o banco foi condenado em 1ª instância a indenizar Francenildo em R$ 500 mil reais pela quebra do sigilo bancário. A Caixa informou à 4ª Vara Federal de Brasília que cabia a Palocci o resguardo das informações que recebera do banco, na época do escândalo da Casa do Lobby.
Para não dizer que não fez nada, o governo federal suspendeu a distribuição do chamado “kit anti-homofobia” para apaziguar a bancada religiosa e para que Palocci, em revanche, não fosse convocado pelo Congresso a prestar esclarecimentos oficiais em Comissões e CPIs. Hoje sei que a frase do velho jingle petista, ‘sem medo de ser feliz’, queria dizer sem medo de se locupletar. Medo pra que, se somos mansos cordeirinhos?





