sexta-feira, 6 de maio de 2011

Abbottabad é aqui




Adriana Bacellar

A essa altura, todo mundo já tomou conhecimento do nome da cidade paquistanesa onde o governo norte-americano matou o terrorista Osama bin Laden no começo deste mês, Abbottabad - cidade de Abbott, um inglês que andou por lá, há muito tempo. Aos poucos, as primeiras versões apresentadas pelo governo de Barack Obama vão sendo contestadas por outros governos e por organismos internacionais, como a ONU, e o que resta é um monte de perguntas e de elucubrações que só servem mesmo à manutenção da desinformação a respeito do que realmente aconteceu.
Osama era amigo do governo hoje encarnado por Obama, e trabalhou pelos aliados na guerra do Afeganistão, décadas atrás. Depois, foi descartado e pulou para o lado do ódio aos yankees, como que para se vingar de quem comeu no seu prato e mais tarde passou a cuspi-lo. A cada nova edição matutina dos jornais mundiais, ficamos sabendo de mais detalhes, todos contraditórios, da ‘Operação Geronimo’ - aliás, um desrespeito ao índio norte-americano que encarnou a brava luta contra o extermínio de seu povo durante a ocupação inglesa em terras americanas.
Ninguém viu corpo, nenhum mulá foi chamado a tratar do cadáver (como reza a tradição islâmica), nenhuma foto foi divulgada e o governo dos Estados Unidos quer nos fazer crer que o mundo é hoje um lugar melhor para se viver em virtude dessa ‘notícia’ que mais parece ter saído da chamada imprensa marrom, por desrespeitar todos os princípios básicos do bom jornalismo.
Uma vez mais, para quem tem o maior arsenal bélico do mundo, tudo é possível. A dica para o rastreamento dos dois mensageiros que trabalhavam para Osama bin Laden teria sido obtida em sessões de tortura na prisão de Guantánamo, enclave norte-americano em plena ilha de Cuba e para onde os EUA enviam os seus presos de guerra e outros de grosso calibre. E tortura é uma das especialidades dos combatentes norte-americanos, como também é de conhecimento público por aqui desde a famigerada ‘Operação Condor’ dos anos 1970. Na época, oficiais norte-americanos treinaram e exportaram sangue e porrada para oficiais da linha dura do Cone Sul, que estavam à frente das ditaduras militares em vários países da América Latina, incluindo o Brasil.
Dois dias antes da notícia da morte de Osama bin Laden, o episódio da explosão da bomba no Riocentro fez 30 anos, no dia 30 de abril. Naquela noite de 1981, cerca de 20 mil brasileiros se encontravam no local para festejar o Dia do Trabalho num show com os principais artistas da MPB, como Chico Buarque, Gonzaguinha, Gonzagão e tantos outros. Todas as portas de saída de segurança do Riocentro estavam trancadas, mais duas bombas foram achadas atrás do palco e outra ainda também foi vista por testemunhas dentro do Puma explodido por obra certamente divina, matando um militar que a manipulava e deixando seu cúmplice no atentado frustrado gravemente ferido.
Como que para coroar todo o ‘revival’ da história política recente do Brasil, está no ar no SBT a novela “Amor e revolução”, que encena os principais fatos dos chamados anos de chumbo da ditadura brasileira. Como de praxe, um abaixo-assinado de milicos da reserva e da ativa tentou intimidar o canal de televisão para que suspendesse a novela, sob a alegação de que abriria de novo velhas feridas. Felizmente, foi rapidamente abafado pela cúpula do Ministério da Defesa, para o bem da recente democratização brasileira.
Talvez nunca saibamos integralmente como Osama foi morto, mas os métodos divulgados de sua execução condizem com o ‘modus operandi’ da maior potência econômica da Terra. Certamente ele foi um terrorista sangrento, mas não mais do que quem exporta não somente tecnologia de ponta em todas as áreas do mercado e da educação, como também práticas escusas e condenáveis de atuação militar ao redor do mundo.

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