sexta-feira, 13 de maio de 2011

O 'status quo' não morreu


Adriana Bacellar

Teve uma época em que era moda usar a expressão Statu quo. Ela andava pela boca de todo mundo, os do contra e os a favor. Foi ali pelo final dos anos 60 e até os anos 80, período exato em que vigorou a ditadura militar no Brasil e no qual o pessoal começou a conhecer Spinoza, Delleuze, Marx, Marcuse, Walter Benjamin, Adorno, Horkheimer e outros.
Trata-se de uma expressão latina que designa “o estado atual das coisas, seja em que momento for”. Ou seja, durante a ditadura, manifestavam-se contra o Status quo todos os que lutavam contra a ditadura militar, de alguma forma. Já os que dela se beneficiavam, eram a favor da manutenção do Status quo, ou das coisas como elas estavam. Como se sabe, não foram poucos os que se aproveitaram dos anos de chumbo para obter informações preciosas e para enriquecer com a manutenção de monopólios os mais variados, de concessões de canais de rádio e televisão até a obtenção do mapa dos recursos naturais brasileiros, em solo ou no sub-solo. Isso para citar apenas os que enriqueceram com atividades consideradas lícitas.
Depois de tanta luta contra a caretice e de encerrado o período em que a censura ditava as regras no Brasil (1964-1985), fato é que a luta pelo e contra o tal do Status quo ganhou novas formas e novas tonalidades, já que a sua manutenção também adquiriu novos contornos. Se antes era o capital estrangeiro, a Rede Globo e o pagamento de juros ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que encarnavam o que de pior o Status quo pudesse representar, hoje em dia essa incorporação se dá de forma mais tênue, uma vez que praticamente todo mundo sonha em levar as crianças para passar férias no Disneyworld, em ter um carrão importado e em vestir grifes como se fossem manequins de vitrine.
No reino da breguice dourada e fake da sociedade do espetáculo insuportável das celebridades, o que melhor parece encarnar o Status quo do terceiro milênio é a aquisição dos dispositivos eletrônicos de última geração. Qualquer burguês de hoje (sim, eles também ainda existem!) tem orgulho inaudito em tirar da bolsa de grife falsa adquirida na 25 de Março o seu modelo de smartphone, seus Palms, seu iPad, seu netbook ou seu iPod. E, cúmulo dos cúmulos, gozam ao portar na traseira dos seus automóveis o adesivo com a logomarca da Apple, símbolo supremo do atual alpinismo social.
O Status quo também se presentifica no orgulho emburrecido dos evangélicos ao defenderem os pastores que subtraem os seus pertencem com pureza incomparável e que fornicam a rodo, enquanto os fiéis comentam à boca pequena. E enquanto garotinhos e garotões não perdem uma boquinha para exibir suas cascas envernizadas por falsos brilhantes e pela moral duvidosa dos preceitos que precisam defender para sobreviver e, assim, disfarçar as suas idiotias, o Supremo Tribunal Federal do Brasil vai dando aula de civilidade e de inteligência na apreciação das mais recentes matérias, como na legalização da união homoafetiva e da negação de recurso aos réus do ‘mensalão’. Ambas as sessões foram aulas magnas contra o Status quo brasileiro que prega a virtude da aparência ante a essência.
Não sei não... Acho que estou me apaixonando pelo Supremo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário