quarta-feira, 22 de junho de 2011

Meia-noite em Paris


Adriana Bacellar

Conheço bem a Europa, mas ainda não fui a Paris. Certa vez, sonhei que morava lá. Lembro-me de ver, de meu imaginário atelier parisiense, o telhado dos outros prédios e algumas de suas fachadas a perder de vista, como uma panorâmica cinematográfica cuja tomada terminasse na Torre Eifel. Como todos os meus outros sonhos, tenho certeza de que isso ainda vai se realizar, se eu quiser, e talvez por isso adie a primeira vez na Cidade Luz, uma vez que, quando a conhecer, irei para ficar algum tempo.
Além de ser material do inconsciente e, portanto, realização de desejos, os sonhos são agora o mote do mais recente filme do diretor nova-iorquino Woody Allen, um dos grandes cineastas do cinema mundial de todos os tempos. “Meia-noite em Paris” não é o primeiro filme de Woody Allen a causar emoções e reflexões profundas na platéia. “Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo, mas tinha medo de perguntar”; “Sonhos eróticos numa noite de verão”; “Noivo neurótico, noiva nervosa”; “Manhattan”; “Zelig”; “A rosa púrpura do Cairo”; “Hannah e suas irmãs”; “A era do rádio”; “Um misterioso assassinato em Manhattan”; “Match point” e “Vicky Cristina Barcelona” são alguns dos outros filmes dirigidos por ele que lhe renderam várias indicações a Oscar, Globo de Ouro, Palma de Ouro de Cannes, Urso de Prata de Berlim e a outros prêmios prestigiosos do cinema.
Mas “Meia-noite em Paris” faz mais do que contar de forma brilhante um ótimo roteiro: faz rir, faz chorar e faz sonhar a partir de outro sonho, este de sua personagem principal, Gil: o de tornar-se um bom escritor residente em Paris. O filme é estrelado por Owen Wilson no papel principal e Rachel McAdams, mas tem a participação de grandes atores como Marion Cotillard, Kathy Bathes, Adrien Brody, Corey Stoll e Tom Hiddleston, entre vários outros.
O enredo conta a história de Gil (Owen Wilson), um roteirista de Hollywood que sempre idolatrou os grandes escritores americanos e quer ser como eles. Seu trabalho em Los Angeles faz com que Gil seja muito bem remunerado, mas também lhe rendeu uma boa dose de frustração. Agora ele está em Paris ao lado de sua noiva, Inez, e dos pais dela, Mimi e John. O pai de sua noiva está na cidade para fechar um grande negócio e não se preocupa nem um pouco em esconder sua desaprovação pelo futuro genro.
Estar em Paris, uma cidade linda e que abrigou, em todas as épocas, tantos escritores e artistas consagrados, faz com que Gil volte a se questionar sobre os rumos de sua vida, desencadeando o velho sonho de se tornar um escritor reconhecido. Mergulhando nesse questionamento, ele ‘encontra’ na cidade alguns dos principais artistas que mais admira, como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, T.S.Elliot, Cole Porter, Luis Buñuel, Pablo Picasso, Gertrude Stein, Alice B. Toklas, Man Ray, Josephine Baker, Edgar Degas, Toulouse-Lautrec, Matisse e Paul Gauguin, dentre outros.
Além de uma ode de amor à cidade, “Meia-noite em Paris” é um sopro de vida para todos os que acalentam sonhos e têm talento para realizá-los. Além disso, a película toca na ferida da nostalgia e da mortalidade humanas, ressaltando a idéia, através da belíssima Paris, que a vida é sempre aqui e agora, por mais referências do passado que se carregue. Um dos melhores filmes que já assisti em minha longa carreira de cinéfila. Simplesmente imperdível.