sábado, 5 de novembro de 2011

A voz das ruas







Depois que os norte-americanos resolveram resistir à insanidade do sistema financeiro que deu crédito a rodo para a construção civil e para a especulação financeira e quase quebrou o país em 2008, o movimento “Occupy Wall Street” (Ocupe Wall Street) se espalhou não só pelos Estados Unidos como também pela Europa. O movimento se seguiu às revoluções populares dos países do Norte da África e do Oriente Médio, que ficaram conhecidas como “Primavera Árabe” e derrubaram ditadores na Tunísia, no Egito e na Líbia. Também causaram muito barulho na Argélia, Bahrein, Jordânia, Iraque, Síria, Omã e Iêmen, citando alguns.
A União Européia está às voltas com dívidas impagáveis de Grécia, Portugal e Itália, e seus membros – notadamente a França de Nicolas Sarkozy e a Alemanha de Angela Merkel – propõem a aprovação de um fundo de socorro ao bloco europeu para que países e bancos em apuros não decretem a bancarrota. Para isso, sonham com a participação do governo chinês, dono das maiores reservas de moeda forte do mundo, e até mesmo do Brasil, recentemente alçado à posição de 6ª maior economia do mundo.
“Occupy Wall Street” foi a resposta democrata ao movimento republicano “Tea Party”, que varreu os Estados Unidos em 2008/09 logo após os graves problemas econômicos enfrentados pelo governo Obama com a recessão causada principalmente pela especulação financeira e imobiliária. O “Occupy” é um movimento de protesto contra a influência do capital na sociedade e contra a impunidade dos responsáveis pela crise financeira mundial, que atualmente varre todo o hemisfério Norte do planeta.
As manifestações norte-americanas começaram no dia 11 de setembro, data fatídica para os Estados Unidos desde os ataques terroristas de 2001, e ainda continuam a ocorrer, como os protestos realizados nas ruas de Atlanta, Boston, Chicago, Los Angeles, Portland e São Francisco e a paralisação do porto de Oakland, na semana passada.
Do outro lado do Atlântico, também em função dos graves problemas financeiros enfrentados por alguns países do bloco europeu e pelo desemprego que já ameaça a população, as manifestações tomaram as ruas das principais cidades da Europa, como Paris, Roma, Madri, Barcelona, etc. Durante a reunião do G20, realizada nos dias 3 e 4 de novembro, os manifestantes se deslocaram para Cannes, em Nice (França), e transformaram a cidade, famosa pelo seu Festival de Cinema, em palco da luta contra a desigualdade social, a ganância empresarial e o capitalismo como um todo.
Trata-se do acontecimento político mais importante desde os movimentos sociais da década de 60, como a Primavera de Praga (Tchecoslováquia), o Maio de 68 (França) e as lutas contra as ditaduras militares do Cone Sul. Pela primeira vez, desde então, a população de países tão diferentes quanto Estados Unidos, França, Tunísia, Egito e Brasil (na sua luta contra a corrupção endêmica) têm ido às ruas para protestar contra a desigualdade social, a especulação financeira e os valores econômicos que soterraram os valores humanos nas últimas décadas. Mesmos motivos que levaram os jovens a lutar contra a Guerra do Vietnã, pelo “Paz e Amor” e pelo “Flower Power”.
Mais do que ocupações geopolíticas, tais movimentos representam a crise estrutural enfrentada atualmente pelo capitalismo. É a reação da sociedade à insanidade dos mercados e à percepção de que as leis que a regem são, basicamente, a lei dos outros. Dos poucos outros que se beneficiam economicamente da pobreza e da imobilidade de muitos.